quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Salmo 1. 1-6 - A árvore que não murcha

O salmo 1 não está posto à toa como o primeiro do Saltério, o conjunto do livro. Ele, conforme a intencionalidade do autor, aponta dois caminhos excludentes: o caminho da felicidade (daquele que “medita dia e noite” na “lei do Senhor”) e daquele que age impiamente.
O salmista é lógico e objetivo na descrição de como “os perversos não prevalecerão no dia do juízo” (v.5).
Tal fato sugere uma espécie de triunfo transitório, pois ele diz que a estabilidade do perverso é como a da “palha”.
Ou seja, é regido pela instabilidade, em contraposição ao justo, que possui uma “folhagem” que “não murcha” (v.3).
O que se nota no salmo é a existência de dois blocos: (1) dos versículos 1-3; e (2) versículos 4 – 6.
O primeiro bloco expõe a felicidade do justo e sua permanência.
O segundo, a imperenidade e transitoriedade do ímpio.
Trata-se de um contraste, de duas possibilidades para o homem – a felicidade por meditar nas coisas de Deus ou a impiedade, que apesar de ter os seus “benefícios” é sempre transitória, pois existe um dia do juízo na qual todas as realidades serão medidas e avaliadas conforme a justiça da Palavra.
O que é interessante na primeira parte (vv. 1-3) é que o poeta ao escrever o salmo cria uma belíssima metáfora.
Ele sabia o que estava escrevendo.
Morador de uma terra seca e agreste, o salmista conhecia como ninguém os efeitos da escassez de água.
A paisagem desértica da Palestina treinou-lhe os olhos e a sensibilidade.
A vegetação ausente de água não se desenvolve com verdura e finca as raízes profundamente no coração da terra em busca de umidade.
Antes, as árvores carregam em si a dificuldade.
Muitas plantas que se adaptaram ao deserto, fizeram-no graças a um processo forçado e complexo de absorver também a parca umidade derramada pela brisa noturna.
Todavia, Davi diz que o justo, o homem “bem aventurado” é aquele que medita na lei de Deus.
Ou seja, a Palavra de Deus se torna um rio de vida para este homem.
Uma fonte, “uma corrente de águas” (v.3).
A conseqüência dessa árvore plantada junto à torrente de águas é a verdura, o viço, “a folhagem” que “não murcha”.
Essa árvore não é uma arvore que possui seus ciclos produtivos alterados.
Ela dá “o seu fruto” no tempo certo.
Diferentemente daquela árvore que foi amaldiçoada por Jesus (Mt 21), por ter somente folhas numa época em que deveria ter frutos, a árvore do salmista possui regularidade produtiva.
Ela tem fruto na estação certa.
É uma árvore que tem a sua vida orgânica arrumada, harmonicamente constituída.
Em todo tempo essa árvore será bem sucedida.
Ou seja, mostra-se aqui a perenidade desse efeito.
A experiência passa pelo entendimento.
O salmista diz que a experiência é a reflexão, a meditação.
Não se ver uma relação mística estabelecida com a Palavra.
Ela deve entrar pela mente e descer para o coração.
O homem feliz é aquele que encontra na Palavra um rio capaz de inundar a alma inteira – coração e mente.
Um outro fato é que esse poder conferido ao vegetal, não é algo em si à árvore.
O poder emana da água, dos nutrientes encontrados no líquido.
Em suma: esta é a lição imediata que vejo quando leio este belíssimo salmo.
É necessário para esta árvore está viva, ter a alma alimentada e regada pela Palavra do Evangelho.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Data: terça-feira, 30 de dezembro de 2008, 21:55:47.

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