Lendo o contexto anterior a esses versículos, percebe-se claramente porque “estavam as multidões maravilhadas com a sua [Jesus] doutrina”.No início do capítulo, ver-se que Jesus se assenta para ensinar aos discípulos, seguido de grande multidão.
De fato, o ministério de Jesus é marcado pelas grandes multidões.
Tanto era assim, que afirmam os evangelistas que era necessário ele se ausentar, buscar meios para ficar sozinho.
Naquela ocasião, diz Mateus que ele era seguido de grandes multidões e sentou-se com os discípulos e começou a proferir: “Bem-felizes são os humildes espírito, pois deles é o Reino dos Céus... Bem-felizes são os mansos, porque herdarão a terra... Bem-felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” e assim por diante.
As multidões ficaram deslumbradas, pois não se tratava de qualquer ensinamento.
Aquelas palavras saíam com graça.
Os fariseus e os escribas, como se pode ver no evangelho segundo João, chamam o povo de “plebe maldita”.
Percebe-se nisso que os fariseus e os escribas não tinham por costume ensinar ao povo os preceitos elementares da lei.
A lei para eles era sinônimo de poder.
Conheciam-na profundamente, e, por isso, arrogavam para si um respeito que era mais soberba do que virtude.
Naquela manhã, Jesus assenta-se na colina relvada para ensinar aos discípulos as Palavras concernentes às coisas do Reino.
E elas brotam com toda beleza e desenvoltura.
Jorram com cadência, com formosura, com simplicidade.
Jesus verbaliza sobre o poder de influência do cristão e a responsabilidade de cada um dos seus seguidores no mundo.
Ser cristão é ser “sal da terra e luz do mundo”.
Tal assertiva possivelmente deve ter desnorteado os presentes.
Os recursos didáticos de Jesus eram “corriqueiros” (não falo banais).
Faziam parte do dia do povo.
Ele colocava como matéria homilética o sal, a lamparina, o lírio, o pardal, o cabelo, o côvado, o pão, a pedra.
Os arrazoados surgiam como figuras e imagens claras e compreensivas.
Não havia quem não entendesse.
O povo estava na mensagem.
A mensagem era para o povo.
Para que todos percebessem e sentissem.
Para que todos ouvissem e se abismassem.
O mundo precisava saber que a ética do Reino não tratava de realidades externas.
Não tratava de gestuais.
O Reino estava ali.
A força do Reino não podia ser parada.
O amor era a nova força que impulsionaria as relações.
Havia uma moral estabelecida pelos religiosos que conduzia os homens a uma ética conveniente.
Um tipo de postura que fazia distinções entre homem e homem.
Jesus afirma que a nova ética do Reino não faz separações, distinções.
Ela impulsiona os homens a levarem a capa por mais de um quilômetro.
Com essa nova força, seria possível – com radicalidade – oferecer a outra face.
Seria possível ao homem descansar, pois “nem mesmo Salomão em toda a sua glória, foi capaz de se vestir como um lírio que nem fia nem tece”.
Que os pardais que não se preocupam em ganhar a vida nunca pereceram, porque o Pai que está nos céus os alimenta.
Os homens que são maus sabem dá boas dádivas aos filhos, quando estes pedem pão.
O que Deus , o Pai da Misericórdia, não daria àqueles que O pedissem algo!
Ele fazia chover sobre justos e injustos.
O sol se levantava sobre bons e maus.
Jesus diz ainda que é preciso saber construir.
Que era preciso construir as esperanças numa rocha, pois fazê-lo em solo arenoso era demasiado imprudente.
Possivelmente, estivesse fazendo uma comparação indireta com os fariseus.
A doutrina dos mestres em Israel não tinha a base sólida que “a Sua doutrina” possuía.
Tal fato impressionou os presentes.
A sua “didaquê” (doutrina em grego) não tinha os conteúdos sofisticados daqueles que ensinavam e se arrogavam mestres.
Ela não era complexa (em sentido estrito), mas em compensação, os valores tratados e estimulados eram densos, altos, sublimes.
Mateus diz que “ele as ensinava [as multidões] como quem tem autoridade”.
Ou seja, Jesus estava cheio do poder e da autoridade divinos.
Ele viera inaugurar uma nova ordem, um novo tempo no qual o que deveria reinar seria o amor, a justiça e a misericórdia do Reino de Deus.
Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Data: domingo, 4 de janeiro de 2009, 00:55:32
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