terça-feira, 27 de outubro de 2009

Para os que são hipócritas 23.1-39

Os fariseus eram a seita mais zelosa e radical que havia no judaísmo.
Eles surgiram no período hasmoneu, mais precisamente para ser aqueles que se guardariam incólumes contra todas as perseguições e desrespeito que a religião de Israel estava sofrendo por conta do selêucidas e ptolomeus.
O significado do termo fariseu queria dizer “separado”, “distinto”, dando a entender que eles eram detentores de uma irrepreensível vida de devoção e piedade.
Com o tempo, aquela busca de pureza foi se estreitando e se tornando em atitudes legalistas, carregadas de sordidez, arrogância e desvirtuamento do verdadeiro sentido para qual se vive a fé.
É perceptível nos Evangelhos que as palavras mais duras de Jesus não são dirigidas ao povo comum, “aos pequeninos”, como Ele mesmo chamava.
Mas, aos fariseus, os doutores da lei;
Aqueles que se arrogavam detentores do saber, do conhecer e do interpretar a lei.
Afinal, eles haviam se assentado na cadeira de Moisés, para judiciar acerca dos eventos da religião, acerca do era e do que não era.
O que mais me chama atenção neste texto de Mateus, eivado de dureza pelas palavras de Jesus, é o que diz respeito ao verdadeiro sentido da religião.
Porque a religião não deve ser utilizada para um bem próprio.
Jesus diz que eles se utilizavam da religião para mostrarem a si mesmos.
Construíam fardos pesados, cheios de uma gravidade aniquiladora, quando os mandamentos de Deus não são pesados.
Colocavam sobre os ombros dos homens o julgo da escravidão.
Por causa deles, o conhecimento de Deus se vestia de feiúra.
Eles adoravam serem bajulados, chamados de “mestres”, “pai”, “guias”;
Adoravam os primeiros lugares nos banquetes.
Desvirtuavam a importância dos rituais e invertiam o que era essencial na religião.
“Ai de vós, condutores cegos! pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor.
Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro?
E aquele que jurar pelo altar isso nada é; mas aquele que jurar pela oferta que está sobre o altar, esse é devedor.
Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar, que santifica a oferta?
Portanto, o que jurar pelo altar, jura por ele e por tudo o que sobre ele está;
E, o que jurar pelo templo, jura por ele e por aquele que nele habita;
E, o que jurar pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que está assentado nele” (vv.16-23).
Ou seja, eles coavam mosquitos e engoliam camelos (v.24).
Deixavam de lado o que era mais importante na carreira da religião e se enveredavam por discussões, interpretações, ilações, mixórdias caricaturescas do que de fato era o espírito da lei.
Porque os preceitos da lei eram “a justiça, a misericórdia e a fé”.
Jesus diz que neles haviam gestuais de piedade, mas no fundo eles não passavam de sepulcros caiados, de cemitérios ambulantes;
Eram como lápides bem adornadas;
Por fora possuíam beleza, branquidão estética na moralidade, flores para adornar, mas na interioridade de cada um deles habitavam desejos malignos, gestos de morte.
Haviam ossos de mortos no interior de cada um deles.
“Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade” (v.28).
A largueza deste texto é impressionante.
Jesus mostra o perigo que uma religião pode se petrificar e esquecer da vida.
Quando isso acontece, ela torna-se um ente que existe por si mesma.
Passa a viver de tradições vazias e melancólicas.
Pois, os fariseus viviam edificando túmulo aos profetas, enfeitando o túmulo dos justos.
Expressões estas que talvez não possuam um significado literal, posto que Jesus usa aqui uma figura de linguagem.
Ele apenas queria dizer que os fariseus viviam em todo tempo celebrando o passado.
Organizando por meios traditivos, rituais puramente desvinculados da verdadeira religião.
A lembrança era apenas uma desculpa para a empáfia.
Eles apenas queriam dizer que se vivessem nos dias dos profetas não teriam sido cúmplices do sangue que foi derramado.
No fundo, Jesus diz que o conteúdo daquela frase era vazia porque profetas seriam enviados, mas eles os matariam.
Ou seja, eram desculpas que não alimentavam a vida.
Tratava-se de um palavreado esdrúxulo.
“Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade” (v.34);
Essas palavras de Jesus não se limitam apenas aos fariseus daqueles dias – há mais de 2 mil anos atrás.
Elas estão presentes na história.
Afinal, onde existe uma religião, uma tradição e pouca abertura para se entender o que é a vida, existe a possibilidade da hipocrisia.
Hipócrita é o ator que falseia sentimentos, que se veste de devoção, mas que não preserva na alma aquilo que expressa com gestos, palavras e ações.
A hipocrisia engole a vida, sacrifica a piedade e se abeira do território da simulação.
Quantos não são os fariseus que ainda existem hoje em todos os setores da vida humana?
Desde o profissional liberal ao clérigo;
Do clérigo ao político imoral?

Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Data: terça-feira, 14 de fevereiro de 2006, 9:37:03 M

Nenhum comentário: