segunda-feira, 16 de março de 2009

O reino que se assemelha a um tesouro oculto – Mt 13.44

O capítulo 13 de Mateus trata especificamente sobre as parábolas do Reino de Deus.

A definição, segundo o Aurélio, para o termo parábola é que esta forma literária

É uma “narração alegórica na qual os elementos evocam, por comparação, outras realidades de ordem superior”.

Jesus foi os dos maiores mestres neste estilo.

Ninguém conseguiu sintetizar com tanta exatidão, engenhosidade e beleza, sempre se posicionando numa perspectiva escatológica, como Jesus.

No texto em questão, os discípulos interpelam Jesus acerca do porquê o Mestre os ensinava por esse meio tão pouco claro para alguns(10).

Desde o início do capitulo 13, Jesus ensina às multidões por parábola, “porque vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem” (v. 13).

Essa era a explicação: para que se cumprisse os profetas (vv. 14-16).

Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado” (v.11).

De modo que trata-se de um "capítulo parabolar" aonde Jesus explicita com bastante clareza para os discípulos o efeito “explosivo do Reino de Deus” que não podia ser detido.

Isso é visto, por exemplo, na parábola do grão de mostarda e do fermento (vv. 31-33).

Elas sintetizam esse poder de crescimento.

De uma pequena semente, mostarda, uma grande árvore se forma e nela se aninhava as aves do céu nos ramos;

Do fermento e de suas propriedades químicas, uma emulação se daria a ponto de fazer crescer toda a massa.

O Reino do Céu era um pão de trigo, que por mais minúsculo que aos olhos do observador afastado não represente muito interesse, quando pronto torna-se em algo grande, crescido, apetitoso.

De modo, que ao final daquela instrução tão interessante e tão criativa, os discípulos observavam que Jesus se utiliza de aspectos extremamente simples e corriqueiros e os transforma em verdades teológicas de grande profundidade espiritual – o semeador, a rede de pesca, o caçador de pérola, o fermento que é trabalhado pela dona de casa, o grão de mostarda, algo tão costumeiro para os homens daquele tempo, e pergunta aos discípulos:

“Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe eles: Sim, Senhor”.

Não havia como não entender aqueles arranjos tão belos, aquelas ilações tão descomplicadas, aqueles comparações tão objetivas, aquelas conclusões tão sintéticas, mas de mergulhos tão interessantes.

Ao final, eles apenas afirmam, numa concordância muda e tácita: “Sim, Senhor.”

Simplesmente, não há o que falar.

No versículo 44, Jesus se utiliza de uma das mais belas parábolas encontradas nas Escrituras – a parábola do tesouro escondido.

Ele afirma que o Reino dos Céus é semelhante a um tesouro que está oculto no campo, o qual certo homem estando a trabalhar na terra, acaba por encontrar o tesouro, sai “transbordando de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo”.

E nisso aqui está um dos mais belos ensinamentos existenciais que são ensinados nas Escrituras.

Aqui mostra como se porta aquele que acha no coração as verdades, o tesouro, atinentes ao Reino de Deus.

Ele vai e emprega tudo o que tem para a aquisição daquele tesouro.

Ou seja, despende forças, reuni desejos e passa a viver para aquele tesouro, que passa a ser a razão da sua existência.

Lembro-me aqui do apóstolo Paulo em Filipenses 3.8.

Paulo diz: “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo”.

Ele diz que após ter achado o tesouro, todas as demais coisas tornaram-se “escória”, “refugo”, “resto”, “rebotalho” ou qualquer coisa desprezível.

Ou ainda num sentido mais radical: como “estrume”, “esterco” ou “fezes”.

Paulo passou a considerar todas as demais coisas que não imprimiam na alma os valores desse tesouro, como fezes, como dejeto humano, como qualquer evacuação.

Esse é o sentido mais radical da firmação de Jesus.

Aquele que acha o tesouro escondido do reino, vai, vende, deixa todas as relações, todos acordos hediondos promovidos pela cegueira que mente para a vida e passa a se dá para esse tesouro.

A alma dele enche-se de alegria.

Mesmo não tendo nada aos olhos os humanos, aquele que achou esse tesouro, tem tudo.

A sua existência passa a ser de alegria.

Ele passa a viver para esse tesouro maravilhoso.


Por Carlos Antônio M. Albuquerque.

Data: Quarta-feira, 11 de janeiro de 2006, 9:26:37 M

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