Esse fragmento é parte da entrevista do filósofo Luiz Felipe de Cerqueira Pondé concedida à Revista Filosofia - Ciência e Vida, edição no. 27, de outubro de 2008. Resolvi postar, pois trata de um dos assuntos mais relevantes para cada ser humano: a existência de Deus. Deus existe? Para Pascal, a dependendo da resposta que dermos a essa resposta estaremos atraindo para nós implicações de dimensões eternas. Matematicamente, sempre que apostarmos, perderemos. Então, baseado nesse fato, é melhor crer e não apostar, pois se apostarmos e perdemos a aposta, não perdemos apenas a aposta, perdemos a própria vida ao lado da luz. Filosofia - Você estudou Pascal por bastante tempo. Como inserimos o seu pensamento na lógica pós-moderna? Como a aposta pascaliana nos ajuda a entender a religiosidade atual?
Pondé – Pascal é um homem do século XVII vendo nascer a modernidade e já apontando para as suas fraturas. Em seus escritos, ele diz algo como “espaços infinitos que me apavoram. Deus não está mais em lugar nenhum. A natureza não é mais a manifestação de Deus, é tudo pedra atraindo-se e repelindo-se ao mesmo tempo”. Ele também é um crítico do racionalismo, proferindo a frase que virou samba aqui no Brasil, “o coração com sua razão tem razões que a própria razão desconhece” e dizendo que “Descartes é incerto e inútil”.
Pascal era um matemático, está nas bases do cálculo de probabilidade, no cálculo infinitesimal, era cientista de fato. Sua aposta consiste no seguinte: se você apostar que Deus não existe e viver como se Deus não existisse, aparentemente você ganha, porque fez o que quis da sua vida. Agora, se aposta que Deus não existe, e Deus existir, aí perde tudo. Porque a sua vida aqui é finita, mas você vai perder infinitamente no pós-morte. Isso quer dizer que racionalmente, do ponto de vista matemático, a crença em Deus é muito melhor do que a descrença em Deus, porque Deus existir você perde a sua condição infinita. Com isso ele quer provar que, toda vez que você aposta contra o infinito, você perde. E como o infinito está em jogo, ou seja, a imortalidade da alma, apostar contra ela te leva sempre a perder, porque ela é infinita... Mas o problema é que no final desse fragmento de Pascal chamado “Infinito Nada”, seu interlocutor diz: “eu sinto muito; concordo com você, mas não consigo acreditar”. A conclusão dele é que a razão é tão incerta e tão inútil que, mesmo que seja racional e matemático acreditar em Deus, você não acredita por causa disso. Logo, ele pensa que acreditar em Deus é uma questão de Graça. Ou você tem ou você não tem, não tem nada de racional. E isso é uma ideia de Pascal, é uma ideia clássica do cristianismo.
Filosofia – Mas isso é um Deus ex-machina que acaba com qualquer argumentação.
Pondé – Ele elimina o debate porque, aparentemente, não importa o que você pensa, é Deus quem determina o que você acredita. Por outro lado, Ele ilumina as incapacidades da razão em determinar os afetos, por exemplo. Ele esclarece a incapacidade racional em determinar a vontade (e esse é o foco da aposta), e produz um debate monstruoso sobre a insuficiência do ser humano. A razão resolve pouco, mas não os problemas básicos do ser humano. Ele consegue resolver problemas de esgoto, por exemplo, mas não consegue resolver o pânico do medo de morrer de diarréia.
Pondé – Pascal é um homem do século XVII vendo nascer a modernidade e já apontando para as suas fraturas. Em seus escritos, ele diz algo como “espaços infinitos que me apavoram. Deus não está mais em lugar nenhum. A natureza não é mais a manifestação de Deus, é tudo pedra atraindo-se e repelindo-se ao mesmo tempo”. Ele também é um crítico do racionalismo, proferindo a frase que virou samba aqui no Brasil, “o coração com sua razão tem razões que a própria razão desconhece” e dizendo que “Descartes é incerto e inútil”.
Pascal era um matemático, está nas bases do cálculo de probabilidade, no cálculo infinitesimal, era cientista de fato. Sua aposta consiste no seguinte: se você apostar que Deus não existe e viver como se Deus não existisse, aparentemente você ganha, porque fez o que quis da sua vida. Agora, se aposta que Deus não existe, e Deus existir, aí perde tudo. Porque a sua vida aqui é finita, mas você vai perder infinitamente no pós-morte. Isso quer dizer que racionalmente, do ponto de vista matemático, a crença em Deus é muito melhor do que a descrença em Deus, porque Deus existir você perde a sua condição infinita. Com isso ele quer provar que, toda vez que você aposta contra o infinito, você perde. E como o infinito está em jogo, ou seja, a imortalidade da alma, apostar contra ela te leva sempre a perder, porque ela é infinita... Mas o problema é que no final desse fragmento de Pascal chamado “Infinito Nada”, seu interlocutor diz: “eu sinto muito; concordo com você, mas não consigo acreditar”. A conclusão dele é que a razão é tão incerta e tão inútil que, mesmo que seja racional e matemático acreditar em Deus, você não acredita por causa disso. Logo, ele pensa que acreditar em Deus é uma questão de Graça. Ou você tem ou você não tem, não tem nada de racional. E isso é uma ideia de Pascal, é uma ideia clássica do cristianismo.
Filosofia – Mas isso é um Deus ex-machina que acaba com qualquer argumentação.
Pondé – Ele elimina o debate porque, aparentemente, não importa o que você pensa, é Deus quem determina o que você acredita. Por outro lado, Ele ilumina as incapacidades da razão em determinar os afetos, por exemplo. Ele esclarece a incapacidade racional em determinar a vontade (e esse é o foco da aposta), e produz um debate monstruoso sobre a insuficiência do ser humano. A razão resolve pouco, mas não os problemas básicos do ser humano. Ele consegue resolver problemas de esgoto, por exemplo, mas não consegue resolver o pânico do medo de morrer de diarréia.
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PONDÉ, Luiz Felipe de Cerqueira. A liquidez do pântano Pós-Moderno. Filosofia - Ciência e Vida. Edição no. 27, outubro de 2008, Editora Escala.
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