Tenho lido a Bíblia de forma ordinal, de maneira que possa vencê-la toda em 1 ano. Ao chegar à história de Abraão e ler a saga épica do patriarca, impressionei-me. Não é à toa que é chamado de “pai da fé”. Passei a semana inteira pensando no quanto a fé é o elemento mais radical àquele que caminha na História.Recorri à carta aos hebreus, precisamente o capítulo 11, também conhecido como “galeria da fé”. Encontrei a afirmação: “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que deveria por herança; e partiu sem saber aonde ia” (Hb 11.8). Quando leio tal assertiva, imagino a figura do Abraão histórico, contingente. Segundo os próprios relatos bíblicos, o patriarca era imensamente abastado. Vivia em Ur dos caldeus, cidade encravada na Mesopotâmia. Possivelmente vivesse em clãs e tivesse uma condição econômica favorável. Isso fica evidente no episódio com Ló, seu sobrinho. Os dois estavam caminhando junto pelo deserto. A Bíblia informa que cada um teve que tomar o seu caminho por conta da quantidade de animais que possuíam. Era impossível os dois continuarem juntos. Cada um foi para o seu lado. Todavia, enquanto morava em Ur Abraão surgiu com a notícia amalucada de que necessitava partir para uma terra distante. Ao que indagaram:
- Abraão, onde fica essa terra?
Ao que ele respondeu:
- Não sei!
Tal afirmação quando julgada pelo bom senso constitui uma grande loucura. Ser senhor, rico, abastado, gozar dos privilégios inerentes à condição que se alcança com o resultado do próprio trabalho é motivo para uma alegria que surge de um senso de estabilidade. Não o foi para Abraão.
O velho Abraão, pois já havia passado dos 70 anos, ainda esclareceu que seria pai de uma grande nação. Todos sabiam que ele era casado com uma mulher infértil – Sara – e que já havia passado do tempo de gerar filhos. Alguns dos seus devem ter rido. A história dessa saga deve ter suscitado burburinhos, fofocas, especulações a respeito dos sentimentos incertos de Abraão.
“Partir sem saber para onde vai” é uma atitude impensada para o homem natural – empregando o termo paulino (1 Co 2.14). Não para o homem da fé. O homem da fé é desafiando a caminhar na História tateando o invisível. Mesmo não vendo, não apalpando o sonho que é apenas expectativa, o homem que caminha por fé, sabe para onde está indo. Ninguém entende as suas intenções, sonda-lhe os paços, todavia, as suas pegadas tem um destino certo.
Kierkegaard escreveu no seu livro Temor e Tremor que “a fé é o que sobra quando tudo acaba” e que o homem da fé é um “cavaleiro de esperança”. Nesse livro, o filósofo dinamarquês reflete o episódio de quando Abraão leva o seu filho Isaque, o filho da promessa, para ser imolado no monte Moriá.
O patriarca assim se constitui no modelo de substantivação da radicalidade da fé. Mesmo não vendo, mesmo caminhando sem destino aparente, os seus olhos estavam cheios de luzes e convicções fortalecidas. A incondicionalidade de sua fé era uma força que rechaçava as realidades físicas. Mesmo quando obedece a Deus com o fim de sacrificar Isaque, ele o faz por fé (Hb 11.17-19).
Por isso, paço a ser entendedor que mais que certezas, é preciso ter fé. É a fé que solidifica os paços, aplaina as convicções, motiva a caminhada para o destino certo.
Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Data: Segunda-feira, 06 de abril de 2009.
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