domingo, 4 de janeiro de 2009

Breves considerações sobre Mateus 4

O texto que trata da tentação de Jesus é bastante emblemático.
Jesus é levado ao deserto para ser tentado pelo diabo, pelo Espírito Santo (v.1).
O interessante é que é o próprio Deus quem leva Jesus ao deserto para ser tentado pelo diabo.
A tentação se processa com a permissão de Deus Pai.
A Trindade está aqui inserida.
O Pai permite a tentação, o Espírito Santo leva e o Filho se submete à tentação.
A Trindade está envolvida nesta tentação.
O texto trata sobre a basicalidade e os níveis de tentação que é comum a todo ser humano.
No texto, entende-se que o desejo é o de desviar Jesus do foco o qual Ele estava inclinado, que era trazer salvação para o mundo.
A primeira tentação é a tentação do “transformar pedras em pães” (v.3).
O interessante é que o texto em seu aspecto circundante informa que Jesus estava em jejum (v.2).
Ou seja, a primeira tentação acontece no nível da necessidade.
É uma tentação que coloca e insinua para o tentado aquilo que lhe é necessário.
“Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães” (v.3).
A outra tentação é acerca do desafio de ser um indivíduo mimado e que, mesmo ante o sofrimento, tem o socorro divino acompanhado.
“Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra” (v.6).
A outra se dá no nível do poder-para-governar-o-mundo.
O diabo propõe a Jesus todos os reinos do mundo se Ele prostrado lhe adorasse, o diabo.
“Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”(v.8,9)
Em primeiro deve se ressaltar que se trata de tentações que sucederam no ministério de Jesus.
Estas tentações O perseguiram: tanto no pedido de um sinal pelos fariseus, pelo Golgata aonde Ele ficou abandonado e os irmãos Tiago e João que querem fazer cair fogo do céu sobre os samaritanos.
O ministério de Jesus foi uma tentação.
Mas o que se observa na primeira tentação é que a proposta não era somente transformar pedras em pães.
O maior problema não estava em transformar pedras em pães.
O texto é explicito em afirmar que somente depois de quarenta dias é que Jesus teve fome (v.2).
A tentação não estava baseada simplesmente no fato de converter pedras em pães, porque o Senhor tinha fome.
A fome de Jesus não era aquela, a fome Dele era de fazer a vontade do Pai que Lhe enviara (Jo 4.34).
O diabo insiste com Ele para que se convertam pedras em pães.
Aparentemente parece uma tentação óbvia, clara e boba, posto que se alguém está a tanto tempo sem comer, a oferta essencial será de comida.
Mas deve se inferir que se trata de algo mais fundo.
Trata-se especificamente na tentativa por parte do diabo em fazer com que Jesus desvie o trajeto da missão para Si mesmo.
Tem-se nas entrelinhas da tentação e da resposta de Jesus o fato de que se trata de uma tentação a fim de brincar com o poder divino.
Se Jesus tivesse anuído à tentação, com certeza o seu ministério não teria chegado a bom termo.
Os homens ainda continuariam presos ao pecado e desgarrados das maravilhosas promessas do Evangelho.
A tentação é uma tentação para fazer desviar o propósito da missão.
A resposta de Jesus é contundente: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”(v.4).
Ou seja, o verdadeiro pão que eu vim trazer foi o pão que irá alimentar a alma dos homens.
Este é o verdadeiro pão.
O pão é o cumprimento da Palavra.
Pois a minha verdadeira comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou.
Estas são respostas de Jesus que vem à mente pelo contexto maior das Escrituras.
A outra tentação é a tentação do poder da vaidade (v.8).
Aqui o diabo tocou num ponto que evidencia, se Jesus anuísse, que se trata da tentativa de inocular a vaidade, o egoísmo, o mimo e o melindre.
O diabo quis mostrar para Jesus que se tratava de uma missão árdua.
Que Ele ficaria sozinho.
Que seria abandonado.
Jesus deveria tirar a prova ali, no alto, no pináculo do templo, porque estava escrito: “Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra”.
O tentador queria mostrar para Jesus que quando o momento da Cruz chegasse, o Socorro divino estaria presente.
As dores existiriam, mas para fugir da dor de um ministério que terminaria no ultraje, na zombaria e na galhofa de todo o povo, e até mesmo, daqueles que Ele treinaria, o melhor a fazer seria experimentar para ver se os anjos do Deus Altíssimo estavam prontos para salvá-Lo.
Ao que Jesus deve ter respondido:
- Não é isso o que Eu quero.
- “Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” (v.7).
Jesus estava mostrando que não viera para tentar ao Senhor, mas para fazer a vontade Daquele que o enviou, pois este era o caminho que conduziria ao cumprimento da verdadeira justiça (ver Mt 3.15; Jo 7.16; 9.17,18).
A outra tentação seria a tentação do poder para dominar o mundo e fazer um império aqui mesmo na terra.
Neste caso, Jesus se endiabraria, tomaria feições bestiais, posto que os reinos e as potestades do mundo seriam passados para Ele.
Seria o endiabramento do próprio Deus.
Um Deus lacerado pelo desejo de subjugar o sistema mal, o mundo de caos, de imoralidade, de astúcia e vaidade.
A oferta do diabo é para que Jesus se incline, se dobre, adore-o.
Jesus diz: “Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás” (v.10).
Deus não pode ser tentado pelo mal.
A oferta foi indigesta.
Jesus diz que não havia possibilidades de se tentar a Deus.
Duas sentenças haviam sido extraídas das Escrituras, a última foi uma formulação própria do diabo.
Ou seja, as fichas se acabaram, ficando apenas aquilo o diabo era em sua essência, o tentador, o mentiroso.
Estas são tentações que fazem parte da vida do ser humano.
Desviar o coração, melindrar-se e ser tentado pelo poder.
Jesus arrebatou a cada uma delas com a Palavra.
A Palavra que sai da boca de Deus vence o mal.

Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Data:quarta-feira, 7 de dezembro de 2005, 9:52:52 M.

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