quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Entrevista com Caio Fábio feita pela Revista Contemporânea

Esta entrevista com Caio Fábio chegou à minha caixa de e-mail. Não cheguei a lê-la ainda. Resolvi postá-la, pois o Caio é uma das poucas pessoas que aunda tenho paciência para ouvir. Aqueles ramerrões medonhos a que estamos acostumados a ver da igreja evangélica brasileira, americana ou qualquer outra coisa cansam. A interpretação hodierna não insere a alma humana nas Escrituras. Não fala de realidades existencializáveis. A religião tornou-se uma difusora da matéria e do experiencialismo piegas. Tal realidade me satura, por isso aqui segue em primeira mão mais uma das tantas entrevistas concedidas pelo Caio. Boa leitura!


CONTEMPORÂNEA – Por que acreditar em Deus?
Caio Fabio – Por que como poderei crer em mim se não creio no Sentido de minha vida em Deus? Além disso, crer em Deus é crer na vida. E mais: crer em Deus é poder andar sob a maior força desta ou de qualquer existência: o poder da fé. Eu, todavia, só creio em Deus porque Ele creu em mim e a mim se revelou por pura Graça e bondade. Sem fé mesmo, o que existe em relação a Deus é a “crença vazia” em um Deus que, para o homem, existi apenas por uma questão de “normalidade social e psicológica”; mas, tal crença, não nos põe na cara de Deus mesmo.

CONTEMPORÂNEA – Nos EUA, na capital americana, recentemente, e na Inglaterra, existiram campanhas publicitárias de não crença em Deus. Para os ateus, um mundo sem qualquer tipo de religião é possível. A que você atribui essa descrença crescente no mundo?
Caio Fabio – Atribuo à loucura da religião. A religião, com seu “Deus” de guerras e divisões faz muito mal à humanidade. De fato, as pessoas que assim se portam em relação a Deus — lutando contra a idéia de Deus —, não fazem tal oposição a Deus mesmo, mas apenas à Sua representação, ao Seu “Retrato Falado” descrito equivocadamente pela religião, cujo Deus é apenas uma projeção dos valores morais do grupo religioso que diz representar a Deus na Terra. De fato, ironicamente, as três religiões monoteístas do mundo — o judaísmo, o cristianismo e o islamismo — estão acabando com o mundo e a Terra. Quem tem um mínimo de conhecimento histórico sabe do que eu estou falando.

CONTEMPORÂNEA – Que tipo de fé e concepção espiritual sobre Deus, você defendeu e defende nestes últimos 33 anos como pregador?
Caio Fabio – A mesma de Jesus, que disse: “Quem me vê a mim, esse vê o Pai!” Deus é a cara de Jesus. É meigo como Jesus. É amor como Jesus. É simples como Jesus. É amigo de pecadores como Jesus. É distante da religião como Jesus. Deus é Jesus e Jesus é Deus. Quem quiser saber como Deus é, olhe para Jesus, conforme os evangelhos O apresentam.

CONTEMPORÂNEANo mundo moderno, segundo importantes centros de pesquisas, cerca de 98% da população mundial acredita em Deus. Mas, ainda assim, o fato em si de acreditar não eximiu o ser humano de praticar guerras, violência urbana, fome, drogas, injustiças sócias e econômicas. Por quê?
Caio Fabio – Porque o “Deus” do mundo é religioso. Ora, religião é política, é partido, é fenômeno humano e se alimenta de interesses humanos, tanto econômicos quanto políticos. O “Deus da religião” divide e faz guerra. Não dá para haver paz no mundo se o maior poder entre os homens, o de Deus, é visto como uma força ideológica que afirma uns e dana ao inferno aos diferentes. O espírito religioso, quanto mais fundamentalista seja, mais diabólico o será na produção de guerras e divisões entre os homens.

CONTEMPORÂNEAAté que ponto a Cristianismo da época de Jesus ao Cristianismo de hoje preserva sua essência original?
Caio Fabio – Jesus não fundou o Cristianismo. Ele não criou nada disso que aí está. O Cristianismo é uma criação do Império Romano cooptando a “Igreja” a fim de fortalecer o Império que se esfacelava aí pelo 4º Século. O mais foi feito em nome de Jesus, mas não tinha e não tem qualquer relação com o que Ele ensinou no Evangelho. Tudo isso é um grande estelionato!

CONTEMPORÂNEAQual é, afinal, a saída para possíveis distorções que o Cristianismo, na sua essência, sofreu nos últimos dois mil anos?

Caio Fabio – O Cristianismo não tem salvação. Não há promessas de Deus para a religião. Nos dias de Jesus os piores inimigos foram os fanáticos religiosos. Não foram os Romanos que mataram a Jesus. Foram os religiosos judeus que assim decidiram. Pilatos foi o mero executor. Jesus, portanto, nunca fez planos acerca de nenhuma religião. E ensinou que não se põe remendo de pano novo em vestes velhas. O Cristianismo, como fenômeno humano e religioso, não tem cura. Há milhões no Cristianismo que conhecem a Deus pessoalmente, mas isso nada tem a ver com o Cristianismo, mas apenas com a fé simples de tais pessoas na pessoa de Jesus. Por isto, não tenho sugestões a fazer ao Cristianismo.

CONTEMPORÂNEA – O crescimento da fé protestante no Brasil é uma realidade nas últimas décadas. Como você, um homem que conhece bem de perto este universo, vê tudo isso? O que existe de bom e de errado?
Caio Fabio – De bom? Ora, existem pessoinhas queridas conhecendo a Deus. De mal? De mal é a coisa toda! Vejo tudo isto como um inchaço sem alma e sem entendimento. A maioria dos “evangélicos” mais recentes são totalmente pagãos em suas crenças e em sua visão acerca de Deus.

CONTEMPORÂNEA – Qual sua opinião sobre pastores que abandonam a vida eclesiástica para militarem em outro campo, o político?
Caio Fabio – Em geral são uns oportunistas que nunca tiveram vocação pastoral mesmo. E quando obtiveram eleitores em quantidade suficiente, correram para o poder que sempre almejaram e invejaram. Vejo tudo como um descalabro, e, entre esses, conheço apenas um ou dois que não tenham se corrompido por completo.

CONTEMPORÂNEAO que, exatamente, você chama de “graça divina”, termo que com freqüência é usado por você onde quer que você pregue?
Caio Fabio – Graça significa “favor imerecido”. A Graça é como Deus se relaciona com o homem. Sim! Não por méritos do homem, mas exclusivamente em razão de Deus ser amor.

CONTEMPORÂNEA – Qual o papel fundamental da Igreja Cristã no mundo, que vive obscurecido por inúmeros desafios, que vão desde gravíssimos problemas climáticos a crises financeiras?
Caio Fabio – A Igreja Cristã deveria apenas se converter ao Evangelho, esquecendo-se de si mesma, pois, a “Igreja Cristã” no Ocidente da Terra foi a maior promotora daquilo que hoje nos sufoca. Somente duvida disso quem não conhece a História.

CONTEMPORÂNEA – Como cristão, você é favor do uso de células troncos para o tratamento de doenças degenerativas, como, por exemplo, mal de Alzheimer?
Caio Fabio – Sim! Para tratamentos dessa natureza sou a favor. Mas sei que não ficará aí, e que, em algum tempo, o mundo do Dr. Frankenstein aparecerá, posto que o homem não consiga ficar sem realizar tudo o que possa em qualquer que seja o campo do saber. E, no caso da engenharia genética, o potencial para a loucura, mexendo nas entranhas da vida, é sem termo de comparação com qualquer outra forma de mal e de intervenção.

CONTEMPORÂNEA – Por que apesar do espantoso reconhecimento no meio evangélico, você nunca se propôs a abrir uma igreja?
Caio Fabio – “Igreja” para os “evangélicos” é um prédio cheio de gente. Para mim, conforme os evangelhos, a Igreja é gente cheia de Deus. Ora, nesse sentido do Novo Testamento, não fiz e não faço outra coisa senão abrir igrejas nas almas humanas desde sempre.

CONTEMPORÂNEA – Qual sua visão sobre a Igreja protestante brasileira hoje?
Caio Fabio – Um ente do passado, sem significado no presente e sem projeto e proposta para o futuro.

CONTEMPORÂNEA – Por que no meio evangélico, haja vista a confissão de uma só fé, existe tantas denominações?
Caio Fabio – Porque entre os “evangélicos” existe tudo, menos uma só fé. Os “evangélicos” têm tantas “fés” quantos “pastores” e “apóstolos” existam. E cada um anda não conforme a fé, mas conforme o “nicho”; ou seja: conforme o que dá certo para reunir gente, poder, dinheiro e influencia. Entre os “evangélicos”, se der certo não precisa estar certo.

CONTEMPORÂNEA – Hoje a busca espiritual em todo o mundo é uma coisa inegável. Entretanto, ao que parece a idéia sobre religião e Deus são coisas distintas diante de tanta confissão de fé e tão pouco senso de humanismo no ser humano. Por que isto acontece?
Caio Fabio – Sim! A busca humana é cada vez mais por espiritualidade e menos por religião. Se for assim, ótimo; posto que o Evangelho não seja religião, mas caminho espiritual, vereda de espiritualidade no coração da vida.

CONTEMPORÂNEA – Existe, na sua opinião, alguma coisa de cunho espiritual na crise financeira mundial?
Caio Fabio – Tudo! Esta crise é filha do pecado, da ganância, do dinheiro virtual, da força agregadora da Grande Babilônia, que é o sistema que aí está.
CONTEMPORÂNEA – De modo paradoxal, na região do Oriente Médio, um lugar onde se professa o nome Deus ou Alá de forma tão veemente, as pessoas vivem em constantes conflitos e guerras. O que você, como cristão e pregador, pensa sobre isto?
Caio Fabio – Já disse. Lá existem religiões monoteístas, mas não Deus. Deus é amor. Onde há guerras, pode haver tudo, menos Deus.

CONTEMPORÂNEA – O que é o caminho da graça?
Caio Fabio – É um movimento simples de fé conforme tudo o que acima eu disse: algo que seja apenas evangelho e sem doutrinações de homens. O Caminho da Graça é um movimento de busca da experiência simples da fé em Jesus, e sem os dogmas perversos da religião. Para nós, se está no Evangelho nos serve. Se não está, nada queremos.

CONTEMPORÂNEA – Se você, digamos, encontrar um sujeito, e ele perguntar qual o motivo central para se tornar um discípulo de Jesus, você diria o que para ele?
Caio Fabio – Diria que ele foi feito por Deus e para Deus, e que o Evangelho é a única alternativa de vida aqui e além para quem deseja apenas ser de Deus sem complicações e sem ficar nas mãos de homens e de sistemas.

CONTEMPORÂNEA – Como, exatamente, Caio Fabio define Caio Fabio? (como cristão, pregador, ser humano, cidadão, escritor; escolha uma alternativa).
Caio Fabio – Sou apenas um homem que creu no Evangelho e que não tem duas caras e nem duas vidas; e a que tenho é toda para o Evangelho.

CONTEMPORÂNEA – Quem é Deus para o Caio Fabio?
Caio Fabio – Deus é amor, conforme em Jesus o amor se manifestou!

21 de janeiro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF
www.caiofabio.com
www.vemevetv.com

domingo, 4 de janeiro de 2009

Breves considerações sobre Mateus 4

O texto que trata da tentação de Jesus é bastante emblemático.
Jesus é levado ao deserto para ser tentado pelo diabo, pelo Espírito Santo (v.1).
O interessante é que é o próprio Deus quem leva Jesus ao deserto para ser tentado pelo diabo.
A tentação se processa com a permissão de Deus Pai.
A Trindade está aqui inserida.
O Pai permite a tentação, o Espírito Santo leva e o Filho se submete à tentação.
A Trindade está envolvida nesta tentação.
O texto trata sobre a basicalidade e os níveis de tentação que é comum a todo ser humano.
No texto, entende-se que o desejo é o de desviar Jesus do foco o qual Ele estava inclinado, que era trazer salvação para o mundo.
A primeira tentação é a tentação do “transformar pedras em pães” (v.3).
O interessante é que o texto em seu aspecto circundante informa que Jesus estava em jejum (v.2).
Ou seja, a primeira tentação acontece no nível da necessidade.
É uma tentação que coloca e insinua para o tentado aquilo que lhe é necessário.
“Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães” (v.3).
A outra tentação é acerca do desafio de ser um indivíduo mimado e que, mesmo ante o sofrimento, tem o socorro divino acompanhado.
“Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra” (v.6).
A outra se dá no nível do poder-para-governar-o-mundo.
O diabo propõe a Jesus todos os reinos do mundo se Ele prostrado lhe adorasse, o diabo.
“Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”(v.8,9)
Em primeiro deve se ressaltar que se trata de tentações que sucederam no ministério de Jesus.
Estas tentações O perseguiram: tanto no pedido de um sinal pelos fariseus, pelo Golgata aonde Ele ficou abandonado e os irmãos Tiago e João que querem fazer cair fogo do céu sobre os samaritanos.
O ministério de Jesus foi uma tentação.
Mas o que se observa na primeira tentação é que a proposta não era somente transformar pedras em pães.
O maior problema não estava em transformar pedras em pães.
O texto é explicito em afirmar que somente depois de quarenta dias é que Jesus teve fome (v.2).
A tentação não estava baseada simplesmente no fato de converter pedras em pães, porque o Senhor tinha fome.
A fome de Jesus não era aquela, a fome Dele era de fazer a vontade do Pai que Lhe enviara (Jo 4.34).
O diabo insiste com Ele para que se convertam pedras em pães.
Aparentemente parece uma tentação óbvia, clara e boba, posto que se alguém está a tanto tempo sem comer, a oferta essencial será de comida.
Mas deve se inferir que se trata de algo mais fundo.
Trata-se especificamente na tentativa por parte do diabo em fazer com que Jesus desvie o trajeto da missão para Si mesmo.
Tem-se nas entrelinhas da tentação e da resposta de Jesus o fato de que se trata de uma tentação a fim de brincar com o poder divino.
Se Jesus tivesse anuído à tentação, com certeza o seu ministério não teria chegado a bom termo.
Os homens ainda continuariam presos ao pecado e desgarrados das maravilhosas promessas do Evangelho.
A tentação é uma tentação para fazer desviar o propósito da missão.
A resposta de Jesus é contundente: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”(v.4).
Ou seja, o verdadeiro pão que eu vim trazer foi o pão que irá alimentar a alma dos homens.
Este é o verdadeiro pão.
O pão é o cumprimento da Palavra.
Pois a minha verdadeira comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou.
Estas são respostas de Jesus que vem à mente pelo contexto maior das Escrituras.
A outra tentação é a tentação do poder da vaidade (v.8).
Aqui o diabo tocou num ponto que evidencia, se Jesus anuísse, que se trata da tentativa de inocular a vaidade, o egoísmo, o mimo e o melindre.
O diabo quis mostrar para Jesus que se tratava de uma missão árdua.
Que Ele ficaria sozinho.
Que seria abandonado.
Jesus deveria tirar a prova ali, no alto, no pináculo do templo, porque estava escrito: “Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra”.
O tentador queria mostrar para Jesus que quando o momento da Cruz chegasse, o Socorro divino estaria presente.
As dores existiriam, mas para fugir da dor de um ministério que terminaria no ultraje, na zombaria e na galhofa de todo o povo, e até mesmo, daqueles que Ele treinaria, o melhor a fazer seria experimentar para ver se os anjos do Deus Altíssimo estavam prontos para salvá-Lo.
Ao que Jesus deve ter respondido:
- Não é isso o que Eu quero.
- “Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” (v.7).
Jesus estava mostrando que não viera para tentar ao Senhor, mas para fazer a vontade Daquele que o enviou, pois este era o caminho que conduziria ao cumprimento da verdadeira justiça (ver Mt 3.15; Jo 7.16; 9.17,18).
A outra tentação seria a tentação do poder para dominar o mundo e fazer um império aqui mesmo na terra.
Neste caso, Jesus se endiabraria, tomaria feições bestiais, posto que os reinos e as potestades do mundo seriam passados para Ele.
Seria o endiabramento do próprio Deus.
Um Deus lacerado pelo desejo de subjugar o sistema mal, o mundo de caos, de imoralidade, de astúcia e vaidade.
A oferta do diabo é para que Jesus se incline, se dobre, adore-o.
Jesus diz: “Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás” (v.10).
Deus não pode ser tentado pelo mal.
A oferta foi indigesta.
Jesus diz que não havia possibilidades de se tentar a Deus.
Duas sentenças haviam sido extraídas das Escrituras, a última foi uma formulação própria do diabo.
Ou seja, as fichas se acabaram, ficando apenas aquilo o diabo era em sua essência, o tentador, o mentiroso.
Estas são tentações que fazem parte da vida do ser humano.
Desviar o coração, melindrar-se e ser tentado pelo poder.
Jesus arrebatou a cada uma delas com a Palavra.
A Palavra que sai da boca de Deus vence o mal.

Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Data:quarta-feira, 7 de dezembro de 2005, 9:52:52 M.

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