segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Jesus, o Senhor do sábado e da vida – Mt 12.1-21


Jesus sempre foi motivo de curiosidades excessivas para os homens do seu tempo, por causa da Sua compreensão em relação às necessidades humanas.

Para Jesus, a vida humana tem um valor que excede a qualquer outro bem (v.12).

Mateus insere a controvérsia de Jesus com os fariseus acerca do sentido do sábado nesta passagem.

Os fariseus cumpriam o sábado como uma ordenança estritamente mecânica.

Cumprir o sábado para os fariseus era simplesmente deixar de exercer alguma ação externa, material, visível.

A vida estava aprisionada dentro da gaiola legalista da religião.

A radicalidade da compreensão dos fariseus acerca do sábado era tão extrema que eles entendiam que se uma vida estivesse padecendo e precisasse de ajuda, dever-si-a esperar até o outro dia.

Jesus cinde com isso quando caminha com os seus discípulos num sábado nas proximidades de uma seara.

O texto diz de forma meio que provocativa que os discípulos tiveram fome.

E aqui temos algo interessante, posto que se estabelece um paralelo:

De um lado o mandamento, a ordenança, o preceito;

Do outro, a necessidade humana, a fome, o estômago que ronca e fragiliza a vida.

Os discípulos estando nesta condição, apanham espigas e põem-se a comer.

Os fariseus imediatamente incriminam: “Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado” (v.2).

Ou seja, o que é licito fazer num dia de sábado?

É a pergunta mais imediata que se nos surge.

Jesus utiliza dois argumentos do Antigo Testamento:

Davi teve fome e comeu os pães da proposição, juntamente com os seus companheiros.

A necessidade da vida é maior que o mandamento.

O outro exemplo de Jesus é com relação aos próprios sacerdotes que “violam o sábado e ficam sem culpa”.

Jesus estava dizendo em suma: “Vocês não conseguem enxergar um afrouxamento do mandamento e da ordenança, mesmo quando o que está em jogo é o ser humano, a vida, a necessidade mais aguda da alma?”.

A afirmação do versículo 6 é forte: “Aqui está quem é maior que o templo”.

Ele estava afirmando que era maior que o mandamento, maior que a ordenança da religião;

Maior que as regras e os jogos rituais arquitetado pela estreiteza e hipocrisia dos auto-considerados senhores da mecanicidade, que consideram a lei maior que a necessidade da alma que precisa de ajuda.

E Jesus arremata: “Misericórdia quero e não holocaustos”.

E nisso aqui está uma das mais importantes verdades do Evangelho.

Porque o Evangelho de Jesus é misericórdia e não holocausto.

Somente o holocausto transforma aquele que o oferece, muitas vezes, num desbragado hipócrita.

Enquanto se oferece o holocausto existe a possibilidade de se auto-justificar diante dos outros e de si mesmo;

É possível afirmar que a mera assepsia externa está sendo feita, portanto, a justiça está sendo cumprida no rito.

É por isso, que o religioso é o mais soberbo, inquisidor e auto-justificado de todos os homens, porque uma vez que cumpriu o holocausto, o rito meramente externo, passa a entender que aqueles que não procedem em conformidade com isso são culpados.

Jesus diz que se os fariseus tivessem entendido o que isso significa não teriam condenado o inocente.

Porque Ele, Jesus, era o Senhor do sábado e o sábado servia o homem e, não o homem, ao sábado.

O homem não serve ao mandamento, mas o mandamento serve ao homem.

Jesus parece que deseja provocar a contumácia legalista dos fariseus, porque saindo dali entrou logo numa sinagoga.

Na sinagoga estava um homem com uma mão ressequida.

Os fariseus como que para provocar, perguntam: “É lícito curar no dia de sábado?”

Ou seja, a pergunta encerrava o fato acerca da licitude de se fazer ou não o bem num dia de sábado.

E Jesus provoca a consciência e a reflexão dos fariseus, questionando:

“Qual vocês, que tendo uma ovelha e vendo-a cair no buraco num dia de sábado, não arranja meios de imediatamente de tira-la dali?”

“Fiquem sabendo que um homem para Deus é maior do que qualquer ovelha gorda que vocês possuam”.

“Enxerguem isso!”.

O texto afirma que Jesus cura o homem.

Os fariseus se revoltam em saem dali para conspirar como matariam Jesus.

O texto diz no versículo 15: “Jesus, sabendo isso, retirou-se dali, e acompanharam-no grandes multidões, e ele curou a todas. E recomendava-lhes rigorosamente que o não descobrissem, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Eis aqui o meu servo, que escolhi, O meu amado, em quem a minha alma se compraz; Porei sobre ele o meu espírito, E anunciará aos gentios o juízo. Não contenderá, nem clamará, Nem alguém ouvirá pelas ruas a sua voz; Não esmagará a cana quebrada, E não apagará o morrão que fumega, Até que faça triunfar o juízo; E no seu nome os gentios esperarão”.

E aqui está uma das passagens mais linda e significativas das Escrituras que demonstra o caráter do Salvador, que não veio para contender nas praças ou contender acerca dos preceitos da religião;

Que não está preocupado em ser agradável com aqueles que espremem o significado da vida e a transformam em algo estreito e nefasto.

Que transformam o princípio do mandamento em uma ordenança que abafa o significado da libertação que existe na Palavra de Deus.

Nas praças não se ouviria a Sua voz como alguém que alardeia virtudes narcisticamente soberbas.

Ele não está aí para deixar a vida perecer como um fruto podre, já passado, quando o mesmo pode ser apanhado.

Ele não esmagará a cana que já está quebrada, nem apagará a acha que fumega nos últimos estertores de vida, nas últimas resfolegâncias da alma.

Jesus contrariou os religiosos do seu tempo, porque o Evangelho que Ele pregou, a Boa Nova de Deus é maior que o orgulho e a soberba humanos.


Por Carlos Antônio M. Albuquerque

Data: quarta-feira, 4 de janeiro de 2006, 9:37:13 M


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